XXIV- TEXTO COMPLEMENTAR/INTERATIVO
O ENCANTO DA CIÊNCIA |
Felipe Moron |
Lembro-me de um professor de Filosofia que, ao falar sobre o desencantamento por que passa o mundo, sugeria que olhássemos para um cachorro durante alguns segundos e tentássemos enxergar o quão estranho é esse bicho.
Não que apenas o cão seja um animal excepcional. Mas, talvez por ser tão próximo, ele raramente desperta nossos pensamentos mais críticos.
E que coisa incrível é aquela criatura peluda e brincalhona!
O paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914), escritor pré-modernista que gostava de passear pelo mundo científico, muito provavelmente experimentou um desses estranhamentos quando escreveu “Versos a um cão”:
“Que força pôde adstrita a embriões informes,
Tua garganta estúpida arrancar
Do segredo da célula ovular
Para latir nas solidões enormes?!”
Deixando de lado a riqueza artística dessas linhas, podemos dizer que o poeta se pergunta: – Como, a partir de um óvulo, desenvolve-se um ser vivo que fica latindo por aí? A resposta é bela como um poema bem escrito.
Quando o óvulo de uma cadela é fecundado, surge o zigoto, que traz o material genético proveniente do macho e da fêmea que se acasalaram. Essa célula começa a se dividir e, aproximadamente no 20º dia de gestação, têm início os processos que vão delinear os órgãos do futuro cãozinho. É o embrião que está se formando.
O que determina o papel de cada célula no organismo é justamente o material genético. Ou seja, as células que vão compor o tecido que reveste a garganta do cachorro obedecem à orientação presente na parte do seu DNA que está ativada: produzem as proteínas necessárias para que realizem suas funções, como a secreção de muco, fundamental na respiração e na produção de sons.
Mecanismos como esse ocorrem em todas as células de qualquer ser vivo. Permitem o latido dos cães e o espanto de biólogos, filósofos e poetas.
Felipe Moron é jornalista e licenciando em Ciências Exatas
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